Saturday, August 21, 2004

A caixa...

-Era tão mais feliz durante minha infância...
-Gugu Liberato foi como um pai pra mim.


Muito bem, muito bem.
Já que este que vos fala está aos poucos se recuperando, sinto-me à vontade de postar mais alguma coisa por hoje; sempre lembrando que há um outro novo post logo abaixo desse.
Sei que o texto está um pouco longo demais. Reservo a todos vocês o direito de mudar de site: você pode clicar aqui, aqui ou aqui. Em não achando nada melhor, volte para nós.
Bem, para aqueles que se aventuram, segurem o fôlego...

Filosofia Duparidu No. 10
Às vezes as coisas admitem certa perda de noção.
Ainda assim, por vezes elas vão longe demais.
Ainda a pouco assistia a um programa na TV paga. Se chama "Troca de esposas" (Wife Swap). Consiste em um reality show: duas famílias têm suas matriarcas - se é que podemos dizer assim - trocadas por duas semanas. Na primeira elas têm que conviver com as regras da casa e fazer o que a outra estaria acostumada a fazer. Já na segunda, ditam as regras: mudam hábitos, organização da casa, comportamento dos "filhos", etc. Já percebes a gravidade da situação, espero, mas ainda há mais o que vir.
Acontece que, no espisódio que assisti, as famílias eram completamente diferentes.
Uma, branca, obesa e de um descaso excessivo para com a casa, se mostrava relutante a se, por acaso, a família com a qual trocariam fosse negra. Alguma dúvida? Mas é claro que ela era! A segunda família, um casal negro que vivia junto, convivia com dois filhos da esposa em algum outro relacionamento. O marido se dizendo "tradicionalista" na organização familiar apesar de passar várias vezes pela sala fumando um baseado, sair sempre à noite e se pintar no melhor estilo pré-adolescente.
Eis que as empregadas domésticas, perdão, as esposas são trocadas.
A mulher branca se recusa a lavar a louça dos negros; discussões e mais discussões. "Não sou racista, mas fiquei surpresa ao descobrir que a família era negra", confessa ela para as câmeras. Na outra casa, a negra pergunta qual seria o seu papel.
"Mamãe costuma sentar aqui e ver televisão".
"Hmm, acho que posso fazer isso", ela responde.
Genial. Mas o melhor ainda está por vir.
Na segunda semana, elas dão as ordens. Na casa dos negros, o barraco é armado. A mulher branca proíbe o fumo de maconha dentro de casa, libera as crianças do castigo, enche a casa de comida congelada. Discussões e mais discussões. Simplesmente não é obedecida.
Na outra casa, nada de discussões ou palavrões é a regra básica. Ela rearruma o quarto da adolescente mais velha que tinha, se não me engano, 18 anos - eram duas filhas, havia ainda uma mais nova. Quando descobre suas paredes desnudas dos pôsteres, percebe a falta dos bichos de pelúcia e tantas outras "reorganizações", vai à loucura. Acostumada a "nunca ser posta em castigo", como disse sua própria mãe ao liberar os filhos alheios da punição, vai à loucura. Xinga, esperneia, discute com seu pai. Esse, na ausência do Joseph Mengueli de saias, consegue algum progresso.
Enfim, um pandemônio. É só vendo para crer; muita coisa devo ter deixado passar - devia ter gravado.
De qualquer forma, não quero me deter no óbvio e dizer que isso é um absurdo ou isso ou aquilo. Quero tratar sobre um certo outro assunto.
Pense nas imagens relacionadas à TV durante a década de 50 - período em que estava se estabelecendo. Hm... pode ser esta?

Tá, tudo bem... talvez não. E essa?

Bem, acho que ambas servem. Uma mídia ligada à família, a programas decididamente ligados aos que mais conseguia entrar nos lares: a religião cristã. Utilizava-se se símbolos próprios ao dogma religioso para ser aceita; uma família feliz, unida, coesa... em frente à TV.
Só que, nos últimos, digamos, 50 anos, alguma coisa mudou. A TV parece se manter com os próprios pés, já parece não precisar mais de tantos símbolos assim. Prova disso mais cabal do que nunca é esse tal de "Troca de esposas". A imagem da mulher-faxineira-ideal mudou um pouco desde Genie para cá. Já não precisa mais encher a tela de sorrisos, beijos e abraços; o fetiche pelo que é televisionado se tornou tão grande que parece terminar por controlar o próprio gosto. Isso unido a um intragável gosto pelo voyerismo resulta nessa tormenta de reality-shows que espetacularizam a miséria humana reproduzindo-a em rede nacional. Se antes as crianças compravam bonecosde super-heróis, já já comprarão de obesas irritantes ou crianças malcriadas onde vêm de brinde pequenas miniaturas de comida congelada. Já não precisamos mais das longas e desproporcionais pernas da Barbie.
E sabe o que é mais engraçado? Se isso chega a ir para o ar e é copiado por outras emissoras - e está sendo - é porque vende. E, se vende, alguém compra. Se alguém compra, é porque alguém assiste e torna o intervalo comercial rendável. Essa matemática do capitalismo me comove. Mas ainda assim há algo que é difícil explicar: a partir do momento em que tudo é reificado e transformado em mercadoria, a rebeledia também ganha seu preço. Camisetas do Che, boinas à la Guevara, camisetas Baby-look onde lê-se "I'm a Rebel" - contra-senso em todos os sentido. Também surguem programas-denúncia: "Tiros em Columbine", "Fahrenheit 9/11", "Super Size Me"... todos documentários premiados que passam nas melhores casas do ramo. Digo ao lado de McDonald's, dentro de Cinemarks... qual o efeito disso? Se chega à mídia é porque ela mesma acha isso tudo ao mesmo tempo inofensivo e rendável, mas será que realmente é? Não sei.
Me parece que, utilizando uma iconografia religiosa a mídia televisiva conseguiu chegar a um patamar onde dita suas próprias regras...e não falo apenas da manipulação de notícias por telejornais; há muito mais coisa além do óbvio.
Será que daqui a algumas décadas cantaremos jingles de joelhos antes de dormir? Hmmm... se cobrar direitos autorais acho que sim.


É, por hoje é só...

Os senhores tirem suas próprias conclusões

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Uau!

TeddyBear!

=P

Abraço!

Méfius.

August 25, 2004 at 12:24 PM  

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