Friday, May 20, 2005

Viajei sim, e daí?

-Vocês, amantes do punk rock, se vestem todos iguais...
-É para nos sentirmos diferentes.


Ora, ora, ora.
Falavam de fifizar, esse imemorial hábito de fofocar.
Isso dá muito pano para a manga...

Filosofia Duparidu No. 9
A fofoca é algo tão longinquamente estabelecido quanto a própria espécie humana.
Mas, pensemos bem, a partir do momento que há a lingua (a oportunidade de falar sobre algo) faz-se a fofoca. Não há outro assunto a ser tratado se não o outro, o alvo da fofoca.
Explico-me.
É bem verdade que vivemos em sociedade e, como tal, estamos em constante troca com outros, com o Outro. Quais poucos assuntos fugiriam a essa lógica? José Angelo Gaiarsa, em seu fabuloso "Tratado geral sobre a fofoca", diz que "67% das conversas são voltadas para outrem, 20% são voltadas sobre si mesmo, os outros 13% se referem a coisas".
Pois então, ambos os casos não seriam fofocas? Sobre pessoas ou objetos inanimados, sempre estamos falando sobre algo que, ou está "fora" de nós ou sentimentos de "dentro de nós". Uma sociedade sem fofoca não seria sociedade em si: seria, antes de mais nada, um aglomerado de sujeitos umbigados egocêntricos girando em torno de seu mundo e fora do contato com outros - a língua logo morreria e, com ela, toda e qualquer oportunidade de fofoca.
Ah, mas as coisas parece ir um pouco mais além.
Norbert Elias, em "Estabelecidos e Outsiders", trata o subterfúgio à fofoca de forma preciosa. Pensem comigo: se não nascemos com uma identidade nascida na testa, "brasileiro" ou "roqueiro", por exemplo, algo faz com que as adquiramos ao longo de nossa vida. Correto? Pois de qual outra forma se não pela fofoca esse compartilhamento de valores seria possível?
Digo o segunte: a inserção em uma rede de mexericos atesta o pertencimento a um grupo, a uma coletividade qualquer. Valores sobre terceiros - quando deprecitativos, referentes a pessoas não incluídas no grupo - podem ser passados boca-a-boca e forjar identidade, amizade ou paixões, como queiram.
Por isso acho que, para uma fofoca, o assunto deve ter outro tipo de utilidade.
Exatamente em função disso - e do fato d'eu achar Platão um puta d'um babaca - lanço uma nova teoria para a seleção de fofocas; perguntas que devem ser feitas ao nosso interlocutor:
AS TRÊS ESPIGAS:
1. Esse assunto coça (é instigante)?
2. Esse assunto limpa (nossa imagem em relação a nós mesmos)?
3. Esse assunto penteia (deixa-nos esteticamente próximos)?

Tudo para ficar bem na rodinha...

...afinal, quem quer ficar queimado na rodinha?

E por falar em rodinha, rolará algo hoje (sexta)? Aguardo então.

Os senhores tirem suas próprias conclusões.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Concordo com o caro Pedro.
O problema das fofocas não está em falar dos outros que, numa referência sociológica, podemos dizer que fofocar significa saber quem são as pessoa que nos cercam e quem somos nós nesse meio "pastoso", pois relações humanas não são necessariamente sólidas, nem líquidas. O problema da fofoca está na maledicência.
Conta aquela historinha: Um sujeito foi a julgamento por ter falado muito mal de um inocente e este, prejudicado enormemente, entrou com uma ação contra o malfeitor.
O juiz ao ouvir do acusado a alegação de que ele havia dito apenas palavras e que não queria fazer mal decidiu proferir a sentença somente após dar uma missão ao insignificante réu. Disse o Juiz: "Escreva num papel as maledicências que voce proferiu contra aquele cidadão. Rasgue este papel em pedacinhos. Vá até sua casa soltando este pedaços pelas ruas. Retorne aqui com todos os pedaços recolhidos e eu lhe absolverei." Impossível!! O que o vento espalhou dificilmente será reunido novamente.
Um abraço
Marcelo
P.S. Parabéns pelo excercício literário que vc e Matheus tem feito nos seus blogs.

May 20, 2005 at 12:13 PM  
Blogger Pedro Ferrari said...

Ótimo saber que essa bodega aqui está ficando cada vez mais bem frequentada.

Essa história de fofoca dá muito pano pra manga; não consigo imaginar outra forma de se estabelecer uma identidade e naturalizar verdades.

=D

Nós da redação do Mundo Cão esperamos mais visitas de tão célebre convidado.

O senhor tirou suas próprias conclusões.

May 20, 2005 at 3:31 PM  

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