Wednesday, June 29, 2005

Você fez o comentário? Então leia!

Filosofia Duparidu No. 12
As coisas andam apertadas; monografia, final de semestre, tensão pré-formatura.
É uma pena que as coisas tenham chegado ao ponto de surgir um comment como o deixado aqui no último post. Sim, eu sei do que (ou quem) se trata.
Pois bem.
Às vezes encontramos tantas pessoas que nos falam pra ligar quando estamos mal mas, assim como alguém que diz "passa lá em casa qualquer dia", por vezes não é tão sincero assim. Ou melhor, não é tão literal assim; a sinceridade não se resume à dicotomia verdade/mentira. Somos todos seres umbigados em nossos próprios valores, perdidos em nossas próprias formas de ver o mundo. O azul, por vezes, é mais azul para um do que para outros. Quem poderia ter a autoridade para julgar?
O livre arbítrio é uma mera invenção; forma de empurrar a responsabilidade para sujeitos esquecendo de que eles são apenas invenções daquilo que vivem. Cada linha do que escrevo, por exemplo, é a superfície de um processo que tem sido gestado há 22 anos. Poderia alguém julgar-me por isso com o intuito de me condenar?
Se incomodo, não incomodo a todos. De quem é a culpa? De quem é o incômodo?
Somos ensinados por tantas experiências que passamos a julgar, apontar culpados e incriminar inocentes. Mas estaria isso certo?
Em um processo judicial estabelece-se um ideal, uma lei. A partir dela mede-se a proximidade do réu e, por conseguinte, sua carga de "culpa". Mas quem estabeleceu esse tal ponto ideal representado pela lei? A não ser que tendamos à mesma linha de raciocínio de fascismos que durante tanto tempo escravizou, incriminou, apontou povos como culpados em nome de uma lei máxima (raça, ethos, religião), não há culpados. Enfim, tantos regimes que acreditavam ser enviados e que, assim, tomavam para si a autoridade em estabelecer limites entre a sanidade e a loucura, o verdadeiro e o falso, o ideal e o crime, a verdade e a mentira.
Sinto que o desabafo de "babaca fedorento" posto em um comment dias atrás enverede pelo mesmo caminho; julgas sem saber motivos (se é que são necessários). Talvez o problema incriminado não seja exatamente comigo, mas sim no próprio ato de incriminar.
Julgamentos são inculcados em nossa mente como algo natural: juízo final, tribunal inquisitório, poder judiciário. Mas será que realmente é algo inato à condição humana?
Creio que não. Todos os exemplos listados são meramente formas de conformar o indivíduo a regras coletivas que esses mesmos indivíduos criaram. Qual a autoridade de Deus para punir os valores absorvidos por um sujeito que só teve tais referenciais durante toda a vida? Mas tudo isso parece trabalhar em sentido bem diferente: ao invés de punir a não-obediência a uma verdade suprema, parece, antes de tudo, criar essa verdade. Ou, ainda melhor, criá-la e impô-la.
Dirigindo-me a você que deixou esse infeliz comentário, digo: respeito sua visão das coisas, não te culpo. Mas temos valores diferentes que, ao contrário de colocá-los em uma arena, proponho aceitá-los mutuamente; não estou de forma alguma chateado com a birra que fizestes, sei que esse é o prisma através do qual vês o mundo. Mas acontece que não somos nada além desse prisma; como definir alguém senão pelas atitudes que toma? O que venho tentar é, simplesmente, mostrar meu ponto de vista; e, como somos constantemente reinventados pelas experiências pelas quais passamos, espero que esse pequeno texto seja digerido de alguma forma.

A todos os que não têm nada a ver com a história, me perdoe.

Os senhores tirem suas próprias conclusões.

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